Uma história de traição e vingança
É fato que nós meros mortais pouco sabemos sobre a realidade
da vida cotidiana das formigas; é claro que os estudiosos do assunto “pensam”
saber muito, mas a verdade é uma só, no que se diz respeito a natureza, somente
Deus o seu criador é capaz de saber a realidade de seu funcionamento.
Pode-se afirmar que as formigas não são os insetos mais
queridos pelos homens, mais ainda assim tem seu valor, pois tudo que existe na
terra tem uma razão de ser e esses nossos amiguinhos também tem papel
importante no ecossistema.
Enquanto isso, nós humanos, podemos por aqui dar asas a
imaginação e fomentar ideias do que é uma convivência no formigueiro.
Uma das coisas que aprendi desde cedo foi respeitar as
formigas (sou alérgico as suas picadas) e como fui criado em um ambiente de
natureza, sei algumas peculiaridades sobre o assunto.
No formigueiro existe uma rainha, assim como nas colmeias, e
esta deve ser única, pois até no reino animal é impossível ter mais de uma
rainha no mesmo lugar; todas as outras formigas são chamadas de operárias.
Uma vez que a rainha tem a função de colocar os ovos e criar
as larvas, ela conta com um macho para que isso aconteça; toda vez que entre as
larvas uma nova rainha nasce é necessário que uma delas deixe o formigueiro e
levando algumas operárias, forme uma nova colônia... dada uma pequena prévia de
entendimento do funcionamento de um formigueiro, vamos a nossa fábula.
Havia um formigueiro magistral em Terra Vermelha, conhecido como Terócopó; ele era realmente
grandioso e muito bem estruturado, ainda mais se comparado com os pequenos
formigueiros vizinhos, que eram Melheté e Citipé.
A rainha majestosa e intransigente era a já conhecida
Calibri que tinha como seu marido reprodutor e também primeiro ministro o
inigualável Amphion.
Nesse formigueiro passaram rainhas que foram muito poderosas
e importantes, pois fizeram deste o que é hoje, trabalhando com consciência e
comprometimento; nunca nenhuma das rainhas foi deposta, todas morreram de
velhice, logo após é claro, terem feito uma substituta a sua altura para o
cargo.
Porém a última velha monarca Ergoe não teve uma cria muito
boa e acabou deixando o trono sob o comando das patinhas de Calibri.
Conta-se que Amphion mesmo sendo muito inteligente, nunca
conseguiu chegar de fato onde queria, o que o tornou amargo como um fel e
também muito arrogante; nunca conseguiu graduar-se em nada já que por achar-se
mais e melhor que todos, nunca teve paciência para frequentar os bancos de uma
universidade.
Ainda que Calibri não fosse a melhor das rainhas que
estivesse no reino, muitas operárias eram “encantadas” por sua lábia e
desenvoltura.
Dentre as suas seguidoras, assim como aconteceu com Deus e
seus anjos, uma revoltou-se contra os distratos e humilhações a qual era
submetida com frequência... Ameaçou,gritou,chorou e depois vestiu novamente sua
roupa de boa operária como sempre fora em ocasiões anteriores.
Amphion fazia seu papel de procriador e muito mais que isso,
procriador de ideias nada ortodoxas que somente as formigas despidas de
personalidade seguiam; a grande maioria do formigueiro já estava enfastiado com
todo aquele blá blá blá.
O tempo foi passando,os dias e as noites chegavam sem muita
novidade, Calibri seguia seu reinado com sua tirania que era percebida e
repugnada pela grande maioria... o tal do Amphion então era motivo de chacota
entre os mais cultos e ignorado pelos mais humildes, uma vez que estes cansaram
de ouvir discursos de belas palavras as quais não entendiam patavinas.
Eis que uma bela manhã Calibri recebeu uma rosa que era
única no reino, nunca tinha sido vista antes, de uma cor violeta inigualável e
um perfume entorpecedor.
Calibri que era muito vaidosa e adepta das coisas boas
apreciou o perfume e colocou a rosa na sala de entrada do formigueiro para que
pudesse ser admirada por todos que lá chegavam.
Nos dias subsequentes as rosas continuaram chegando, cada
vez mais belas e perfumadas, e assim passando um bom tempo, percebeu-se que
Calibri estava abatida e sem entusiasmo.
A situação fez com que o astuto Amphion suspeitasse que algo
de errado podia estar ligado àquela
inocente flor e com isso, ordenou que a mesma antes de ser entregue a Calibri
deveria passar pela rígida inspeção de Amphion.
Assim foi feito e depois de usar muito de sua formidável
inteligência Amphion chegou à conclusão de que algum tipo remédio poderia estar
sendo colocado na flor, de forma que chegava à corrente sanguínea da rainha
através seus espinhos, já que muito desastrada Calibri sempre se machucava nos
espinhos.
Desde a conclusão de Amphion sobre o perigo o qual a rainha
estava sendo submetida, todos os espinhos das rosas eram retirados e
queimados; em determinada ocasião Amphion sugeriu, até mesmo tentou impor a
Calibri que esta não recebesse mais as rosas,porém, a vaidade de Calibri fez
com que bradasse a todos os ventos que fazia questão de sentir o perfume de
suas rosas todas as manhãs, pois isto lhe dava forças para mais um dia.
Na verdade Calibri não percebia o quanto ela vinha se
definhando como uma rosa que murcha e perde seu perfume e a cada momento deixa
que uma de suas pétalas caia.
Os dias foram passando e mesmo com os espinhos sendo
retirados Calibri continuava a perder vigor; a situação chegou a um ponto que
Amphion já se desesperava, pois nem ovos mais Calibri colocava e caso essa
viesse a falecer o reino se desfaria, já que não havia outra rainha para substituí-la
e toda a sua boa vida terminaria.
Numa bela manhã ensolarada a formiga que há tempos atrás
havia se revoltado entra no quarto de Calibri de posse de uma rosa púrpura
jamais vista na terra, tamanha sua beleza, frescor e perfume, entregando a
rainha.
Esta completamente hipnotizada pela beleza da flor cheirou-a
com paixão; nesse exato momento adentrava ao quarto Amphion que observou o que
acontecia.
Enquanto Calibri inalava o perfume, a formiga revoltada ia
dizendo: “Nunca lhe perdoei pelas humilhações e todas as rosas que recebeste
foram mandadas por mim. Todas estavam envenenadas, mas ao contrário do que
supunha Amphion, o veneno não estava no espinho e sim duas ínfimas partículas na
flor que eram ingeridas pelo seu organismo toda vez que você cheirava a rosa”.
Quando a formiga revoltada terminou de contar o que fez
Calibri deixou sua vida terrena sem que nada pudesse ser feito para socorrê-la;
Amphion que assistia a cena correu em direção a Calibri,mais era tarde demais.
Sem demonstrar um pingo de arrependimento e compaixão, a
formiga revoltada deixou os aposentos da rainha e sumiu nos campos e nunca mais
foi encontrada.
O que podemos dizer de tudo isso? O veneno foi colocado na
mesa de jantar do inimigo... ele só bebeu porque quis... foi realmente uma
jogada de mestre!
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